Segundo dados da Federação dos/as trabalhadores/as na Agricultura (FETAG), o Piauí passou por uma estiagem de mais de 200 dias. Por conta disso, 160 municípios decretaram situação de emergência, de acordo com a Defesa Civil. A falta de chuvas prejudicou as lavouras de milho e feijão, que registraram perda de 80%. O Exército Brasileiro disponibilizou carros-pipa para atender as áreas mais críticas.
De acordo com o Instituto de Meteorologia do Piauí, a média anual de chuvas no Semiárido piauiense varia entre 400 e 1.000 milímetros nos meses mais secos do ano: julho, agosto e setembro. Entretanto, em algumas localidades, entre os meses de maio a outubro deste ano, a média não chegou a atingir os 400 milímetros.
Segundo Eliene Josefa, de 37 anos, da comunidade Pau Ferro, em Caldeirão Grande do Piauí, um dos municípios que registrou menor índice de chuvas durante o ano, a média máxima de chuvas na comunidade foi de 376 milímetros em cinco meses. Desde 2008, a partir do curso de Gestão de Água para a Produção de Alimentos (GAPA), atividade que integra o processo de formação do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), a família de Eliene tem mantido o costume de acompanhar o volume das precipitações na região.
“Este ano, as chuvas foram muito menores que as do ano passado. Apesar de ter sido pouca, a nossa sorte foi que deu pra encher a cisterna e a gente não teve que passar sede”, afirma Eliene. A cisterna a qual ela se refere é a de 16 mil litros, construída pelo Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), da ASA.
Algumas famílias que não têm cisterna para beber e cozinhar contam com a solidariedade de outras. É o caso da família de Maria Dionisa Marques, de 32 anos, da comunidade Serra da Jetirana, em Caldeirão Grande. “Para não passar sede, a gente pega água na casa da mãe que tem cisterna”, afirma. Segundo a moradora, não há chafariz perto e as famílias precisam se deslocar para a cidade para lavar roupa ou comprar água, o que se torna caro, pois uma pipa d’água na região chega a custar R$ 160,00 nos períodos mais secos.
De acordo com o Governo do Estado, cerca de 800 mil famílias piauienses sofrem com a falta de água potável. Dessas, 30 mil possuem cisternas que são utilizadas para o consumo humano. Segundo Carlos Humberto Campos, coordenador executivo da ASA Piauí, a participação da sociedade civil foi fundamental para garantir a essas famílias reservatórios para armazenar a chuva. Segundo ele, das 30 mil cisternas cerca de 26 mil foram construídas por entidades que compõem a ASA, através do P1MC.
Esposa de Seu Elvécio retirando água da cisterna-calçadão
As famílias também estão abastecidas com água para produção de alimentos, apesar da pouca chuva. Em Massapê do Piauí, na comunidade Juazeiro do Quitó, o agricultor Elvécio Joaquim da Costa, de 68 anos, ainda tinha até o final de outubro macaxeira no quintal e a plantação de melancia estava cobrindo o terreiro. Tudo isso com a água da cisterna-calçadão, uma das quatro tecnologias sociais disseminadas pelo P1+2. “O ano todo eu tenho hortaliça para comer. Hoje comida não falta na minha casa”, comemora seu Elvécio.
Para Carlos Humberto, o Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semiárido da ASA é a prova de que, com atitudes simples e adaptadas, é possível transformar a realidade da região. “As tecnologias construídas através da ASA são ao mesmo tempo agrícolas, ecológicas e econômicas”, afirma. Cerca de 136 mil famílias já foram beneficiadas no Piauí pelas ações da rede.
BAP é alternativa para aproveitar água do subsolo
Segundo a Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM), mais de 20 mil poços foram perfurados no Nordeste para abastecer as regiões mais secas. Desse total, 860 estão no Piauí, mas os equipamentos foram esquecidos ou pararam de funcionar e não foram substituídos.
“Apesar de ser salgada na maioria das localidades, a água dos poços serve para a dessedentação dos animais e também para lavar roupas e louças. Pensando nisso, a ASA buscou uma alternativa para aproveitar a água do subsolo, através da instalação da bomba d’água popular (BAP) em poços desativados”, esclarece Humberto, acrescentando que a tecnologia é de fácil manuseio e que não depende de energia para funcionar.
Para Constância Maria de Carvalho, de 64 anos, a BAP foi uma benção para as famílias da comunidade de Alto Vistoso. O poço que existia antigamente na comunidade funcionava com um catavento. “Nos dias que tinha vento tinha água e quando não tinha a gente ficava sem. Veio um vento forte e derrubou o catavento aí nem com vento a gente tinha água. Depois da bomba, achamos que foi melhor porque agora só depende da nossa força, que nem precisa ser tanta”, afirma.
Mariana Gonçalves - comunicadora popular Cáritas/ FPCSA/ ASA Brasil
Mariana Gonçalves - comunicadora popular Cáritas/ FPCSA/ ASA Brasil